quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Papa Francisco: "nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos"

Cidade do Vaticano, 28 out 2014 (Ecclesia) - O Papa Francisco apelou hoje à defesa dos direitos dos trabalhadores e das suas famílias, durante um encontro com os participantes no primeiro encontro mundial de Movimentos Populares.
“Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá”, declarou, perante trabalhadores precários e da economia informal, migrantes, indígenas, sem-terra e pessoas que perderam a sua habitação.

O encontro é promovido até quarta-feira pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz (Santa Sé), em colaboração com a Academia Pontifícia das Ciências Sociais.
“Não existe pior pobreza material do que aquela que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho. O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais não são inevitáveis, são o resultado de opção social prévia, de um sistema económico que coloca os lucros acima do homem”, defendeu o Papa.
A intervenção alertou para o “escândalo da fome” e as consequências da “cultura do descartável”, condenando os “eufemismos” que se utilizam para falar do “mundo das injustiças”.
“Este sistema já não se consegue aguentar. Temos de mudá-lo, temos de voltar a levar a dignidade humana para o centro: que sobre esse pilar se construam as estruturas sociais alternativas de que precisamos”, explicou.
Francisco criticou o “império do dinheiro” que exige a “guerra”, o comércio de armamentos, para a sobrevivência de “sistemas econômicos”.
O Papa agradeceu aos participantes pela sua presença no Vaticano para “debater tantos graves problemas sociais que afetam o mundo de hoje” desde a perspetiva de quem sofre a desigualdade e a exclusão “na sua própria carne”.
“Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se falar disto, para alguns parece que o Papa é comunista”, começou por referir, antes de recordar que “o amor pelos pobres está no centro do Evangelho”.
"Terra, teto e trabalho, aquilo por que lutam, são direitos sagrados. Reclamar isso não é nada de estranho, é a Doutrina Social da Igreja", assinalou.
O Papa pediu que se mantenha viva a vontade de construir um mundo melhor, “porque o mundo se esqueceu de Deus, que é Pai, ficou órfão porque deixou Deus de lado”.
Num discurso de cerca de meia hora, Francisco referiu que a presença dos Movimentos Populares é um “grande sinal”, porque estão no Vaticano para “pôr na presença de Deus, da Igreja, uma realidade muitas vezes silenciada”.
“Os pobres não só sofrem a injustiça mas também lutam contra ela”, precisou.
Jesus, acrescentou, chamaria “hipócritas” aos que abordam o “escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção” para procurar fazer dos pobres “seres domesticados e inofensivos”.
O discurso papal abordou ainda os temas da paz e da ecologia, para além das questões centrais do emprego e da habitação.
“São respostas a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos. Um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza que está cada vez mais longe da maioria”, sublinhou Francisco.
O Papa convidou os participantes a prosseguirem com a sua luta, “que faz bem a todos”, e deu-lhes como presente uns terços fabricados por artesãos, ‘cartoneros’ e trabalhadores da economia popular na América Latina.
Fonte: Agência Ecclesia

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Disparidade entre ricos e pobres cresce no mundo

Os 85 mais ricos possuem bens que equivalem aos de 3,6 bilhões de habitantes mais pobres. Puxada pelo Brasil, América Latina é exceção


REPORTAGEM: Antonio Temóteo e Paulo Silva Pinto (JORNAL ESTADO DE MINAS)


A desigualdade aumentou para a maior parte da população mundial nas últimas três décadas: de cada 10 seres humanos, sete vivem em países onde a distância entre ricos e pobres cresceu no período. É um problema que afeta tanto países desenvolvidos quanto os mais atrasados. Na África subsaariana, há 16 bilionários. E outras 358 milhões de pessoas vivendo na miséria._

Caso se faça uma lista com as 85 maiores fortunas do planeta, chega-se a um montante que equivale às posses da metade mais pobre da população global, aproximadamente 3,6 bilhões de pessoas. “A desigualdade pode causar tensão política e está por trás de protestos em todo o mundo, inclusive os que ocorreram no ano passado no Brasil”, afirmou Simon Ticehurst, diretor no país da Oxfam, confederação de organizações sociais espalhadas por 18 nações. Ela inicia hoje a campanha Even it up, o equivalente em português a “equilibre o jogo”, com o objetivo de chamar a atenção para a desigualdade e para as medidas que podem levar à sua redução.

A América Latina é exceção nesse quadro global, com expressiva redução das disparidades desde 2000, quando a situação atingiu o pior grau. O Brasil lidera essa melhora. “Nós brincamos dizendo que éramos o país mais desigual do mundo e tínhamos o melhor futebol e, hoje, não somos nem uma coisa nem outra”, comentou o economista João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por muitos anos, medalha de ouro da concentração era do Brasil. Agora está com as Ilhas Seychelles e, entre os países do G-20, com a África do Sul, onde os contrastes atuais são ainda maiores do que na época do apartheid, o regime de segregação racial.

Se o Brasil desceu degraus do pódio da desigualdade, a América Latina como um todo, a despeito dos avanços, continua no topo. A Oxfam aponta a alta correlação entre as diferenças de renda e a criminalidade. Das 50 cidades mais violentas do mundo, 41 estão na região. Essa lista, o Brasil ainda lidera, com 16 cidades. Mas não é o país com maior taxa de homicídios. México e nações vizinhas estão na frente, com índices superiores aos de áreas em guerra civil, como o Iraque.

O Brasil ajudou a América Latina de dois modos: melhorando o índice da região e exportando seus programas. “Muito do que foi feito aqui tornou-se referência”, afirmou Ticehurst, da Oxfam. O relatório da organização faz sete menções positivas sobre o país. Um dos destaques é o programa Bolsa Família, que ao mesmo tempo entrega dinheiro aos mais pobres e obriga, por suas condicionalidades, os beneficiários a vacinar os filhos e enviá-los para a escola. “Isso cria um ciclo virtuoso, que fará as novas gerações terem muito mais oportunidades”, destacou Ticehurst. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) foi procurado ontem para comentar as avaliações da organização, mas preferiu não se pronunciar.

Mais do que só dinheiro


Renda não é apenas dinheiro. O relatório da Oxfam mostra que serviços públicos, como educação e saúde, têm grande poder de melhorar a vida das pessoas, aumentando o bem estar e a chance de que os filhos tenham um futuro melhor. “Em cinco países latino-americanos (Argentina, Bolívia, Brasil, México e Uruguai), a renda virtual da educação e saúde reduziu a desigualdade em 10% a 20%. A educação teve um desempenho chave na redução da desigualdade no Brasil, a ajudou a manter o baixo grau de diferença de renda na Coreia do Sul”, registra o relatório.

O problema é que o ritmo de redução da desigualdade é cada vez menor nos últimos anos. "A parte mais fácil foi feita. Agora é preciso promover mudanças estruturais", aponta o diretor da Oxfam. Uma etapa, ele explica, deve se dar por meio de um passo além do aumento de acesso à educação e à saúde: o aumento significativo na qualidade. Mas não é só isso. Ticehurst chamou atenção para a necessidade de uma reforma política. “É preciso evitar que os mais ricos capturem os Estados, fazendo com que tomem decisões que lhes favoreçam”, defendeu.

Outra reforma necessária, disse Ticehurst, é a tributária. Empresários também querem isso, porque esperam a redução da cumulatividade dos impostos e a simplificação do sistema, diminuindo custos de produção. Mas o foco social da Oxfam é diferente. Eles veem necessidade de reduzir a taxação do consumo e aumentar as alíquotas sobre a renda. “Os tributos sobre consumo são regressivos. Atingem de forma acentuada os mais pobres, que gastam quase tudo o que recebem, e menos os mais ricos, que conseguem poupar parte de seus ganhos. É preciso que se crie um sistema progressivo”, afirma.

Críticas

Uma das maiores causas do aumento da desigualdade, de acordo com o relatório da Oxfam, é o chamado “fundamentalismo de mercado”. Isso embute uma critica à ideia de que as empresas, instituições financeiras e os agentes econômicos de modo geral devem ter a maior liberdade possível para tocar os seus negócios. A organização acredita que isso leva ao domínio da economia pela elite, com efeitos negativos para o bem estar da população e do próprio desenvolvimento econômico. O relatório cita vários defensores dessa tese, como Joseph Stiglitz, um dos vencedores do prêmio Nobel de economia.

“Consideramos aceitável que exista alguma desigualdade, de forma a premiar o talento das pessoas. Seria razoável o executivo de uma empresa receber um salário 20 vezes maior do que o de um trabalhador de nível médio. Mas, no Reino Unido, os mais bem pagos nas 100 maiores empresas recebem 131 vezes o rendimento do pessoal de nível médio”, comparou Ticehurst.

Essas altas remunerações são a principal causa do aumento da desigualdade nas regiões mais desenvolvidas, algo que tem efeito muito além do acesso ao consumo. Em Glasgow, na Escócia, há uma linha de metrô ligando o bairro mais rico da cidade ao mais pobre. Em cada estação, a expectativa de vida é menor que a anterior. A diferença entre o início e o fim da linha é de 15 anos.

O crescimento econômico só contribui com a redução da desigualdade, destacou o diretor da Oxfam, quando é acompanhado de outras medidas. Ele citou o exemplo de Zâmbia, país africano que vem crescendo 3% ao ano por um longo período, porém com aumento da desigualdade.

Fonte: JORNAL ESTADO DE MINAS e PORTAL UAI.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

BBC BRASIL: Hostilidade após eleição gera onda de orgulho nordestino nas redes

Ricardo Senra - Da BBC Brasil em São Paulo

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Internautas vinculam suas contas no Facebook ao site "Nordestino, sim" para demonstrar orgulho da região
O recado era direto: "Diga ao mundo: sou nordestino, sim". A resposta foi rápida: na base do boca a boca, mais de 1,7 mil moradores de Estados como Sergipe, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais aceitaram o chamado.
Eles associaram suas fotografias ao site " Nordestino Sim", criado há menos de três semanas para celebrar, por meio de um mosaico de diferentes cores, idades e gêneros, o orgulho de quem nasce na região.
Lançado em 8 de outubro, o site ganhou fôlego durante a onda de mensagens discriminatórias publicadas nas redes sociais na reta final das eleições. E não foi só ele.
Em resposta a mensagens como "só foram feitos para comer farinha, fazer filho e ganhar Bolsa Família", outras manifestações de defesa à cultura e aos cidadãos nordestinos se espalharam pelas redes.
É o caso da hashtag #SouDoNordesteMesmoEComOrgulho, que em menos de uma semana foi compartilhada mais de 100 mil vezes e ganhou adeptos como o escritor Paulo Coelho e o rapper MV Bill. Logo após a divulgação do resultado das eleições, no domingo, a frase chegou ao topo da lista de assuntos mais discutidos no Twitter em todo o mundo.

'Unir rostos'

"O ódio a determinadas regiões, origens, classes sociais não leva a lugar nenhum. Nossa ideia então foi unir nossos rostos para promover união", explica o publicitário sergipano Ricardo Cardoso, criador do projeto "Nordestino sim".
Ele diz que o site não visa estimular rivalidades, mas convidar brasileiros de todos os Estados a "mostrarem a cara e registrar que somos todos iguais, com os mesmos defeitos e qualidades".
Mais do que conquistar adeptos no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, o "Nordestino sim" também reúne imagens de brasileiros que vivem nos Estados Unidos, Espanha, Itália, Argentina, Alemanha, Austrália, Angola, Luxemburgo e França.
A modelo Daniele Magalhães, que nasceu em Aracaju e mora no interior de Minas Gerais, é uma delas. Ao #SalaSocial, ela afirmou ter feito questão de mostrar suas origens depois de ler em sua timeline comentários pejorativos sobre o voto de seus conterrâneos.
Danielle Magalhães diz que, após ler frases de preconceito, "mais do que nunca se orgulha por ser a nordestina que é"
"Não costumo discutir política, e não discuti em momento algum, mas a verdade é que fiz questão de deixar claro minha indignação com a forma arrogante que algumas pessoas se referiam aos nordestinos", diz.
"Algumas pessoas não sabiam de onde eu venho", afirma Magalhães, que não se abateu pelos comentários. "Sim, hoje mais do que nunca eu me orgulho por ser a nordestina que sou".

Direitos humanos

Para Camila Lippi, professora da Universidade Federal do Amapá e coordenadora o Observatório Amazônico de Direitos Humanos, o direito à liberdade de expressão - argumento de muitos para manifestações preconceituosas - tem limites.
"Qualquer sociedade democrática precisa respeitar e defender os direitos de grupos políticos, étnicos, sexuais, quais forem", diz. "Isso está nos tratados internacionais de direitos humanos: eles proíbem apologia ao ódio, como proíbem propaganda a favor de guerras."
A professora, que diz ter ficado surpresa com o nível das campanhas no Rio de Janeiro, onde esteve no fim de semana eleitoral, afirma que as manifestações na internet reproduzem discursos cotidianos de ódio.
"Eles são proferidos diariamente por muitos nas ruas, sem que o autor se dê conta que está falando de seus vizinhos, seus colegas de trabalho, seus amigos", afirma.
Na opinião da especialista em redes sociais Anna Haddad, a discussão tem aspectos "superpositivos para uma sociedade pouco politizada como a brasileira".
"Esse fenômeno traz um movimento importante. As pessoas acompanham os comentários, ouvem opiniões distintas e isso estimula a busca por educação política.
Essa interação enorme ajuda a construir novas reflexões, destruir velhos paradigmas, e traz efeitos vão desde um like ou comentário novos, até uma crítica inesperada, a criação de novos movimentos políticos, a criação de um novo partido", diz.

'Nordestinos simbólicos'

A onda trouxe à tona "nordestinos de coração" - gente nascida longe dali, mas que declara amor a suas tradições - e promoveu encontros inesperados, como entre o escritor Paulo Coelho e o rapper MV Bill.
"Nasci no Rio, e mesmo assim #SouDoNordesteMesmoEComOrgulho (por sinal, mal acabou eleição e começou divisão/preconceito?)", tuitou Coelho, compartilhado por mais de 700 pessoas.
Bill mostrou pensar parecido: "Nasci no Sudeste, mas tenho parentes e amigos no Norte e Nordeste, me sinto privilegiado por isso", escreveu.
O professor de inglês carioca Alexandre Marques trocou sua foto no Facebook por uma imagem em que aparece com um chapéu parecido com os usados pelo cangaceiro Lampião.
"Não tem muito a ver com orgulho o que fiz", diz. "Acho que o único orgulho que realmente vale é o orgulho de compartilhamos uma sociedade que não dê voz a esse tipo de discurso discriminatório", afirma.
Fonte: BBC Brasil

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

CONGRESSO EM FOCO: A geografia dos votos obtidos por Dilma e Aécio

Como tem sido desde 2002, o Nordeste foi decisivo para a vitória do PT. Mas vários fatos novos marcaram esta eleição. Veja os números, estado por estado, desta e das três disputas presidenciais anteriores


Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Dilma comemora em Brasília sua reeleição com Lula, seu antecessor
Seguindo a tradição dos últimos confrontos entre PT e PSDB em disputas presidenciais, Dilma Rousseff ganhou a eleição de segundo turno nas regiões Norte e Nordeste e perdeu no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste.
A grande vantagem que obteve sobre o tucano Aécio Neves no Nordeste – onde venceu com folga em todos os nove estados e teve mais de 76% dos votos válidos em três deles (Maranhão, Piauí e Ceará) – foi mais que suficiente para compensar os revezes nas demais regiões. Mas, considerando o histórico dos enfrentamentos entre os dois partidos, vários fatos novos ocorreram em relação à distribuição nacional dos votos neste ano.
O primeiro é que os tucanos tiveram o seu melhor desempenho desde que foram derrotados por Lula em 2002. Com 48,4% dos votos válidos (ante 51,6% de Dilma), Aécio superou a que havia sido desde aquela data a maior votação do PSDB em uma eleição presidencial: os 44% dos votos alcançados por José Serra, contra a própria Dilma, em 2010.
Também foi desta vez que a oposição venceu em maior número de estados, 12, enquanto os petistas levaram a melhor em 15. Para os oposicionistas, o grande destaque foi São Paulo. Ali, o PT teve sua menor votação das quatro últimas eleições presidenciais, amealhando pouco menos de 8,5 milhões de votos (35,7% dos válidos). Aécio ficou com a preferência de aproximadamente 15,3 milhões de eleitores – quase 7 milhões a mais. Outro trunfo foi a vitória no Rio Grande do Sul, estado em que Dilma construiu sua carreira pública e Aécio teve perto de 455 mil votos a mais que a atual presidenta da República.
Mesmo com a vitória apertada, Dilma tem mais resultados positivos para comemorar. O mais notável é que, em relação a 2010, ela aumentou a sua votação nominal em todos os estados nordestinos com exceção de Pernambuco. Ainda assim, conseguiu lá mais de 70% dos votos válidos (isto é, descontados nulos, brancos e abstenções), apesar do apoio dado a Aécio pela família do ex-governador Eduardo Campos (PSB). Sem falar que, no primeiro turno, quem obteve a preferência dos pernambucanos foi Marina Silva (PSB). Ou seja: dadas as circunstâncias, foi excelente a sua performance no estado natal de Eduardo Campos e do ex-presidente Lula.
A vitória mais simbólica, menos pelo número de votos (menos de 500 mil) do que pelo significado político, ocorreu em Minas Gerais. Dilma venceu Aécio no estado que ele governou por duas vezes.
Dilma venceu nos estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Sergipe e do Tocantins.
Aécio ganhou no Distrito Federal e nos estados do Espirito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Veja abaixo qual foi a votação de Dilma e Aécio, estado por estado, e compare com os resultados obtidos por PSDB e PT desde 2002.
 Fonte: CONGRESSO EM FOCO

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A falácia da corrupção

Raquel Rolnik - Site UOL 

Escândalos de corrupção envolvendo políticos são o assunto que mais consome páginas de jornais e minutos na TV. Em tempos de campanha eleitoral, ganham ainda mais centralidade: nos programas políticos dos candidatos, nos debates, nos comentários na mídia e nas redes sociais, em reuniões de família e mesas de bar.

A corrupção é de fato indignante: é desvio de dinheiro público, é comportamento antiético, conspurca o Estado. Ver políticos, secretários e gestores bebendo champanhe em Paris, passeando de jatinho ou comprando apartamentos que custam milhões de reais –tudo com nosso dinheiro– de fato revolta. No entanto, a maneira como os casos de corrupção têm sido apresentados, na verdade, mais oculta do que revela o problema.

Geralmente, os escândalos de corrupção estão relacionados a superfaturamento de obras e serviços contratados pelo Estado. Quando "estouram", imediatamente aparecem os "políticos corruptos" e o destino do dinheiro desviado por estes, mas quase nunca isso vem acompanhado de preocupação semelhante em mostrar o conjunto de atores, instituições e processos envolvidos no negócio.

Com tantos órgãos fiscalizadores e leis que constroem um enorme emaranhado institucional para impedir que a contratação de obras e serviços pelo Estado seja passível de corrupção e que, ao mesmo tempo, garantem a livre competição entre os fornecedores, por que será que a corrupção persiste? Para responder a essa questão, é preciso abordar assuntos sobre o quais não se fala.

Não se fala, por exemplo, na prática corrente de grupos empresariais que atuam nas obras e serviços públicos de dividir entre si tais obras e serviços, combinando previamente preços e, assim, garantindo mercados cativos, como o de coleta e destinação de lixo, transporte, energia... a lista é gigante. Não se fala, também, do controle das políticas públicas por estes grupos, quem terminam definindo que projetos e políticas serão executados, onde e como, e, evidentemente, ganhando as licitações para implementá-los.

Não se fala do grau de privatização do Estado brasileiro –não no sentido de repasse da prestação de serviços para empresas privadas, mas no sentido do controle dos processos decisórios sobre sua implementação. Não se fala nos uísques caros e passeios de jatinhos que rolam nas "amizades" pessoais entre as lideranças destes grupos e políticos e gestores de praticamente todos os partidos, absolutamente necessárias para garantir a perpetuação de seus contratos, de suas concessões, de seus monopólios.

Pouco se fala, aliás, de práticas cotidianas da cultura brasileira, como "molhar" a mão do guarda, acertar "por fora", que de tão banais nem parecem corrupção, mas são.

A corrupção não acaba porque, infelizmente, ela depende menos da existência de políticos corretos –que, sim existem!– que de um modelo de relacionamento do setor privado com o Estado brasileiro –do qual o financiamento de campanhas é um dos mecanismos–, que hoje perpetua relações de privilégios e benefícios privados para empresas, partidos políticos e indivíduos.

Falar em corrupção sem entrar nessas questões é apenas construir uma cortina de fumaça útil para não expor os verdadeiros beneficiários de todo o butim. 


Raquel Rolnik é arquiteta e urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

BBC Brasil mostra as 'armas' de Dilma e Aécio na reta final

Dilma e Aécio se enfrentaram em debate na TV, no qual corrupção e economia foram questões principais
Os temas corrupção e economia prometem dominar os palanques e as arenas de embates entre os candidatos presidenciais Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na reta final para o pleito derradeiro de 26 de outubro.
No primeiro debate pela TV, na noite de terça-feira, ambos puderam expor o arsenal de argumentos que usarão nos oito dias restantes de campanha - e nos três debates que virão. O próximo encontro será na tarde desta quinta, organizado por UOL/SBT/Jovem Pan.
Ambos batem em teclas distintas: por um lado, Dilma defende avanços econômicos e sociais dos 12 anos dos governos do PT, do outro, Aécio critica os baixos índices de crescimento nos últimos anos e o "fracasso" do governo no combate à inflação.
Ambas as estratégias de ataque incluem acusações de corrupção.
Veja abaixo, os principais argumentos usados nos ataques de cada candidato ao outro:

Dilma Rousseff (Reuters)

Dilma Rousseff (PT)

1. Eventuais cortes em programas sociais

A campanha petista coloca em dúvida a continuação do Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do país. Aécio nega que acabará com o projeto e diz que seu governo irá "aprimorá-lo".
O tucano tem, ainda, defendido a "paternidade" do programa, ao dizer que este teria sido uma ampliação de outros projetos já existentes no governo Fernando Henrique. "O Bolsa Família é um avanço e vai ser continuado no nosso governo", disse ele no debate da Band. Dilma, no entanto, rejeita a reivindicação e diz que a abrangência de programas anteriores era menor.
Dilma diz também que Aécio planeja "reduzir o papel dos bancos públicos", o que poderia afetar linhas de financiamento do BNDES ou da Caixa Econômica Federal - principal financiadora do programa Minha Casa, Minha Vida.
Aécio diz que seu projeto é "saneá-los e dar transparência ao funcionamento", mas que os bancos não serão privatizados.
A privatização de empresas públicas ocorridas no governo Fernando Henrique é, historicamente, um dos argumentos dos petistas contra tucanos em eleições presidenciais.

2. Ajustes que poderão levar ao desemprego

Dilma diz que os ajustes propostos por Aécio na área econômica poderão levar ao desemprego, e que a escolha de Armínio Fraga como eventual ministro da Fazenda, anunciada pelo tucano, trará corte de empregos e de salários.
"Como é que o senhor (Aécio) quer que eu acredite que, com a mesma receita, o mesmo cozinheiro, vocês vão entregar um prato diferente que já entregaram para o Brasil? Vocês gostam de cortar, e sempre cortam. Cortam emprego e cortam salários", disse Dilma, no debate de terça-feira.
Em entrevista recente, Aécio disse que o governo fez "trapalhadas" e intervencionismo "irresponsável" em diversos setores da economia, que resultaram em crescimento baixo e inflação no teto da meta, e afugentou os investimentos. Disse também que a indicação de Fraga dá "sinalização" de "tranquilidade" na economia.

3. Denúncias de corrupção

Dilma também tem usado denúncias de irregularidades envolvendo Aécio e o PSDB para rebater acusações feitas pelo tucano. Além do caso do "mensalão tucano", a presidente cita a construção com dinheiro público de um aeroporto no município de Claudio (MG), nos tempos em que Aécio era governador do Estado de Minas Gerais, em terras de um parente dele.
Segundo denúncias da imprensa, a chave do terminal de pouso e decolagem teria ficado em poder desse parente após a conclusão das obras. De acordo com a campanha do PT, a construção teria beneficiado a família de Aécio.
Aécio diz que o Ministério Público Federal "atestou a regularidade da obra" e que a obra foi desfavorável a seu tio, já que o Estado determinou o valor de R$ 1 milhão para a desapropriação de um terreno que valeria R$ 9 milhões. Segundo Dilma, ainda está em andamento uma investigação sobre eventual improbidade administrativa pela obra.
No debate da Band, Dilma citou as acusações de corrupção ligadas às licitações do Metrô de São Paulo, a cargo do governo estadual tucano.
Aécio Neves (AP)

Aécio Neves (PSDB)

1. Denúncias de corrupção na Petrobras

Uma das principais armas usadas pelo tucano são as revelações recentes de depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff sobre casos de desvio de recursos da estatal para abastecer campanhas de PT, PMDB e PP.
O tucano disse que o governo de Dilma virou um "mar de lama" e classificou de "absolutamente inacreditável" o que chamou de falta de indignação da petista diante das denúncias.
A presidente diz que seu governo sancionou leis que permitem independência na investigação de casos de corrupção e defende a punição de envolvidos em irregularidades. Dilma alega, também, que no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), denúncias de corrupção em órgãos no governo não eram investigadas.
"A minha determinação de punir todos os investigados que sejam culpados, os corruptos e corruptores, é total. É fundamental que o país pare de ter impunidade. Finge investigar e não pune. Nós mudamos essa realidade", disse ela no debate, citando acusações de corrupção a governos tucanos e dizendo que os supostos envolvidos estariam "todos soltos".

2. Desempenho econômico

Aécio diz que Dilma não reconhece equívocos nas políticas econômicas do seu governo e que ela "falhou na condução da economia, não fez o Brasil crescer e não conseguiu controlar a inflação".
O tucano diz ainda que o Brasil perdeu a confiança dos investidores, que "deixaram o Brasil". Aécio diz que o "país não está gerando empregos" e que o desempenho da indústria é o "pior dos últimos 50 anos".
A resposta de Dilma é que a taxa de desemprego atual - de 5% em agosto, segundo o IBGE - é a menor "das últimas três décadas, uma taxa próxima ao pleno emprego".
Dilma disse recentemente que há "demagogia" no debate sobre a inflação e que a alta recente dos produtos é resultado de "um choque de oferta por conta do clima" - em referência à seca que afetou as colheitas e elevou o preço de alimentos. O efeito, diz, é passageiro, e que a inflação recuará para o limite superior da meta.
A meta de inflação do Banco Central é de 4,5%, com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. Em setembro, o IPCA, índice oficial de preços, teve alta de 0,57%, levando o acumulado em 12 meses para 6,75% - acima da meta.
No debate, Dilma disse que a inflação está controlada "dentro dos limites da meta" e compara os números com os dos governos Fernando Henrique. Diz, ainda, que indicadores ruins da economia são reflexos da crise econômica internacional.
Aécio defende o ex-presidente tucano, dizendo que ele teve a missão de debelar a hiperinflação brasileira no início dos anos 1990, e alega que a alta nos preços no fim do governo dele é creditada a incertezas com a eleição do primeiro presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

3. Desgaste do PT no governo
Aécio tem usado, ainda, o argumento de um suposto desgaste do PT após 12 anos na Presidência, e diz que este ciclo precisa ser encerrado. Alega, também, que houve um "aparelhamento da máquina pública" nos governos Lula e Dilma.
No debate da Band, o tucano disse que "há medo na sociedade brasileira... do PT governar por mais quatro anos".
Dilma defende o legado e avanços das administrações petistas, sobretudo na área social, ao tirar "36 milhões de pessoas da pobreza extrema", e diz que a população "não quer os fantasmas do passado de volta, como a inflação, o arrocho e o desemprego", como disse recentemente.
Aécio rebate, e diz que brasileiros estão preocupados com "monstros do presente", como inflação, recessão e corrupção.
Fonte: BBC Brasil (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141014_eleicoes2014_aecio_dilma_armas_hb).

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

CONGRESSO EM FOCO: Parentes de políticos e policiais são os campeões de votos

Divulgação
Shéridan, esposa do ex-governador Anchieta Júnior, foi a segunda mais votada do país proporcionalmente
Ter sobrenome famoso ou defender propostas da chamada “linha dura”, como a redução da maioridade e tolerância zero com a criminalidade, rende votos. Aliás, muitíssimos votos. É o que aponta a relação dos parlamentares mais votados nos 26 estados e no Distrito Federal. Dos 27 campeões estaduais de votos para a Câmara, 17 têm parentes na política e cinco vêm da polícia ou da vida militar, como Jair Bolsonaro (PP-RJ), também pai de políticos. Além de Bolsonaro, outros seis dos mais votados são deputados reeleitos; outros três são ex-parlamentares que retornam à Casa.
De todos os campeões de voto, apenas Christiane Yared (PTN-PR) – a mais votada no Paraná, com 200.144 votos – aterrissará na Casa sem nenhuma experiência política anterior, seja em cargos públicos, seja pelo convívio familiar. Pastora evangélica, Christiane comanda uma ONG que propaga campanhas de paz no trânsito desde 2009, quando seu filho e um amigo foram mortos em acidente automobilístico provocado pelo então deputado estadual Carli Filho.
O deputado mais votado do país, proporcionalmente, será um estreante na Câmara que conhece desde criança os caminhos do poder na capital federal. Hoje deputado estadual, Arthur Bisneto (PSDB-AM), de 35 anos, é filho do ex-senador e atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), e neto do ex-senador Arthur Virgílio. Natural de Brasília, onde o pai passou boa parte da vida, o tucano recebeu 15,13% dos votos dados pelo eleitor amazonense a todos os candidatos a deputado federal do estado.
Além dele, candidatos com parentes na política também foram os mais votados em outros 16 estados: Alagoas, Amapá, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins. Entre os campeões de votos, estão, por exemplo, três ex-primeiras-damas – Rejane Dias (PT-PI), Dulce Miranda (PMDB-TO) e Shéridan Anchieta (PSDB-RR) – e quatro filhos de políticos – além de Arthur Bisneto, João Henrique Caldas (SD-AL), Walter Alves (PMDB-RN) e Pedro Cunha Lima (PSDB-PB).
Evangélica como Christiane Yared, Rejane Dias é deputada estadual e esposa do senador Wellington Dias (PT-PI), que disputa o segundo turno para voltar a ser governador do Piauí. Com 134.157, foi a mais votada do estado.
Ex-secretária estadual, Shéridan desembarca na Câmara com 35.555 votos – a segunda maior votação proporcional do país, com 14,95% dos votos válidos. Aos 30 anos, a mulher do ex-governador José de Anchieta Júnior (PSDB) assumirá o seu primeiro mandato eletivo. No domingo, a alegria em família só não foi completa porque Anchieta perdeu a disputa para o Senado. Mais feliz ficou Dulce Miranda, mulher do ex-governador Marcelo Miranda (PMDB-TO), que voltará ao cargo em janeiro de 2015. Ela foi a mais votada no Tocantins.
Em família
Campeão de votos no Rio Grande do Norte, Walter Alves será o responsável por manter o sobrenome da família na Câmara, já que seu primo em segundo grau, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), atual presidente da Casa, deixará de ser deputado pela primeira vez desde 1971. Henrique disputa o segundo turno para o governo estadual. Walter é filho do senador licenciado Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), ministro da Previdência, e neto do também senador licenciado Garibaldi Alves (PMDB). Também é primo do prefeito de Natal, Carlos Eduardo (PDT).
O mais votado na Paraíba é o filho do ex-governador e atual senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que também concorre ao governo estadual. Advogado de 26 anos, Pedro Cunha Lima recebeu 179.886 votos (9,29%). Votação expressiva também recebeu o filho do deputado alagoano João Caldas (SD), João Henrique Caldas, o campeão de votos em Alagoas.
Linha dura
Quem também começa a formar uma bancada familiar é Jair Bolsonaro. Reeleito com 464 mil votos, o deputado fluminense terá a companhia de um de seus filhos na Câmara, Eduardo Bolsonaro, de 33 anos, eleito pelo PSC de São Paulo. No domingo, Jair também comemorou a reeleição de outro filho, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP-RJ).
Conhecido pelas posições polêmicas que manifesta, como a defesa da ditadura militar e da pena de morte, Bolsonaro também ganhará companheiros da chamada “linha dura”. Esse é o perfil dos mais votados em Goiás, no Distrito Federal, no Pará e no Ceará.
O ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), um dos líderes da chamada bancada da bala, contrária ao Estatuto do Desarmamento, está de volta à Câmara, embalado pelos 155 mil votos recebidos no último dia 5.
Calibre e algema
Suplente que chegou a exercer o mandato nesta legislatura, Delegado Waldir (PSDB-GO) dividiu de maneira curiosa o seu número de candidato nesta eleição: 45 do calibre e 00 da algema. O Delegado Eder Mauro (PSD-PA) também surpreendeu ao liderar a votação entre todos os candidatos a deputado federal de seu estado.
“Serei a voz da direita do povo de Belém em Brasília para apresentar projetos que possam dar um basta nesses vagabundos”, escreveu em rede social na semana passada, dias antes de receber 265.983 votos.
Outro policial que também saiu consagrado das urnas foi o ex-delegado da Polícia Federal Moroni Torgan (DEM-CE), que retorna à Câmara após quatro anos. Campeão de votos no Ceará, Torgan é seguidor da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como Igreja Mórmon.
FONTE: CONGRESSO EM FOCO
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