domingo, 21 de dezembro de 2014

Votos de feliz Natal e ano novo


O Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e Arquidiocese de Belo Horizonte deseja a todos e todas um feliz Natal e um 2015, ano da Paz, com muita saúde e paz.



Natal
Rubem Braga

É noite de Natal, e estou sozinho na casa de um amigo, que foi para a fazenda. Mais tarde talvez saia. Mas vou me deixando ficar sozinho, numa confortável melancolia, na casa quieta e cômoda. Dou alguns telefonemas, abraço à distância alguns amigos. Essas poucas vozes, de homem e de mulher, que respondem alegremente à minha, são quentes, e me fazem bem, "Feliz Natal, muitas felicidades!"; dizemos essas coisas simples com afetuoso calor; dizemos e creio que sentimos; e como sentimos, merecemos. Feliz Natal!


Desembrulho a garrafa que um amigo teve a lembrança de me mandar ontem; vou lá dentro, abro a geladeira, preparo um uísque, e venho me sentar no jardinzinho, perto das folhagens úmidas. Sinto-me bem, oferecendo-me este copo, na casa silenciosa, nessa noite de rua quieta. Este jardinzinho tem o encanto sábio e agreste da dona da casa que o formou. É um pequeno espaço folhudo e florido de cores, que parece respirar; tem a vida misteriosa das moitas perdidas, um gosto de roça, uma alegria meio caipira de verdes, vermelhos e amarelos.



Penso, sem saudade nem mágoa, no ano que passou. Há nele uma sombra dolorosa; evoco-a neste momento, sozinho, com uma espécie de religiosa emoção. Há também, no fundo da paisagem escura e desarrumada desse ano, uma clara mancha de sol. Bebo silenciosamente a essas imagens da morte e da vida; dentro de mim elas são irmãs. Penso em outras pessoas. Sinto uma grande ternura pelas pessoas; sou um homem sozinho, numa noite quieta, junto de folhagens úmidas, bebendo gravemente em honra de muitas pessoas.



De repente um carro começa a buzinar com força, junto ao meu portão. Talvez seja algum amigo que venha me desejar Feliz Natal ou convidar para ir a algum lugar. Hesito ainda um instante; ninguém pode pensar que eu esteja em casa a esta hora. Mas a buzina é insistente. Levanto-me com certo alvoroço, olho a rua e sorrio: é um caminhão de lixo. Está tão carregado, que nem se pode fechar; tão carregado como se trouxesse todo o lixo do ano que passou, todo o lixo da vida que se vai vivendo. Bonito presente de Natal!



0 motorista buzina ainda algumas vezes, olhando uma janela do sobrado vizinho. Lembro-me de ter visto naquela janela uma jovem mulata de vermelho, sempre a cantarolar e espiar a rua. É certamente a ela quem procura o motorista retardatário; mas a janela permanece fechada e escura. Ele movimenta com violência seu grande carro negro e sujo; parte com ruído, estremecendo a rua.



Volto à minha paz, e ao meu uísque. Mas a frustração do lixeiro e a minha também quebraram o encanto solitário da noite de Natal. Fecho a casa e saio devagar; vou humildemente filar uma fatia de presunto e de alegria na casa de uma família amiga.



Texto extraído do livro "A Borboleta Amarela", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1963, pág. 124.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Filme sobre dom Pedro Casaldáliga tem pré-estreia em São Félix do Araguaia

Michèlle Canes - Enviada Especial da Agência Brasil/EBC Edição: Graça Adjuto
Pré-estreia do filme Descalço sobre a Terra Vermelha, obra que conta a história de dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, é uma coprodução da TV Brasil (Wilson Dias/Agência Brasil)
Pré-estreia do filme Descalço sobre a Terra Vermelha, que conta a história de dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia  (Wilson Dias/Agência Brasil)Wilson Dias/Agência Brasil

























Olhos atentos. Ninguém queria perder nenhuma das cenas. Na tela, o filme Descalço sobre a Terra Vermelha conta a história da vida e da luta de dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), ao lado da população da cidade, pelos direitos dos menos favorecidos. Cerca de 300 pessoas estiveram ontem (2) à noite na pré-estreia da obra. A exibição foi no centro comunitário da cidade e contou com a presença do próprio dom Pedro, o que emocionou muita gente.
Na plateia, pessoas de todas as idades acompanhavam a narrativa. Entre elas estava o agente comunitário de saúde José Carlos Abreu que, muito emocionado, falou sobre sua presença no filme como figurante. “A gente foi criado praticamente na Prelazia. Dez irmãos, família pobre e tivemos total apoio da Prelazia. Me ver hoje gravando a cena, atirando em dom Pedro, me emocionou demais. Estou tremendo até agora e me sinto na obrigação de pedir perdão a ele pela cena que fiz”, comenta.
A servidora pública Maria Lúcia de Souza também participou das filmagens. “Durante todo o filme, senti nossa história viva. Achei muito forte também pelo fato de Pedro estar assistindo junto”. Assim como ela, outro morador de São Félix, o agente pastoral Chico Machado, se viu pela primeira vez na produção. “A gente nem acredita que a história que se passou está sendo mostrada ali, no cinema, de maneira muito cruel e conflitiva, mas muito bonita. A juventude precisa ver isso e entender que o sonho, os ideais, a utopia estão muito presentes”. Os três fazem parte de um grupo de aproximadamente 1.300 moradores da região que trabalharam nas filmagens como figurantes.
Morador da cidade, Raimundo Oliveira também não perdeu a chance de ver a obra e ficou até o fim. “Eu gostei muito do filme e a gente fica muito satisfeito de ver o mundo tomar conhecimento da vida do povo de São Félix. É importante porque fica uma lembrança do sofrimento daquelas pessoas”.

Não foram só os moradores de São Félix que prestigiaram a produção. A policial militar Mirian Dias veio de Barra do Garças e pôde conhecer um pouco mais da vida do bispo. ”Foi possível ver a outra versão da história porque muitas pessoas criticam sem conhecer a vida dos posseiros, dos indígenas”. Para ela, o registro é muito importante. “É fundamental repassar o que dom Pedro viveu naquele período porque esse tipo de situação ainda está impregnado na região. Foi reconhecer tudo o que ele fez, para o mundo saber quem é ele”.

Outra moradora de Barra do Garças, a estudante Nágila Oliveira, falou emocionada sobre o filme a que tinha acabado de assistir e a importância do registro para as futuras gerações. “Guardei um monte de lágrimas em muitas horas. Deu para conhecer muito bem a luta dele, que vai continuar por meio desse filme, porque ela não acabou”.
O autor do livro que deu origem ao filme, Francesc Escribano, veio para acompanhar a pré-estreia e disse que a história de Pedro precisa ser conhecida pelo mundo. “É uma história muito importante, que fez o povo da região ganhar a sua dignidade e liberdade”. Para Escribano, a participação da população no filme foi essencial. “O apoio de ter a gente daqui fez com que todo mundo colocasse o coração no filme e isso se mostrou no resultado final. Por isso, em todos os festivais de que participamos, ganhamos prêmios”

Pré-estreia do filme Descalço sobre a Terra Vermelha. Na foto, dom Adriano, bispo de São Félix do Araguaia e Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito (Wilson Dias/Agência Brasil)
Pré-estreia do filme Descalço sobre a Terra Vermelha. Dom Adriano, bispo de São Félix do Araguaia, e dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito (Wilson Dias/Agência Brasil)Wilson Dias/Agência Brasil

Uma das premiações ocorreu neste ano. Dirigido pelo cineasta catalão Oriol Ferrer, o filme ganhou os prêmios de melhor ator (Eduard Fernández que interpreta dom Pedro) e melhor trilha sonora original na 27ª edição do Festival Internacional de Programas Audiovisuais (Fipa), na França. A produção também foi premiada no New York International TV & Film Awards.
A obra é uma coprodução da TV Brasil com a televisão espanhola TVE e a catalã TVC. O diretor-geral da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Eduardo Castro, disse que outras emissoras públicas vêm demonstrando interesse na produção e destacou a importância do registro. “É uma história que não é só emocionante, mas que precisava ser contada, e a gente tem muito orgulho de fazer parte disso”. A diretora de Jornalismo da EBC, Nereide Beirão, e a diretora interina de Produção, Myriam Porto, também estiveram presentes na pré-estreia.
O secretário nacional de Articulação Social da Presidência da República, Paulo Maldos, participou do evento. Ele disse que durantes muitos anos acompanhou de perto os acontecimentos na região, o que o aproximou também das filmagens da obra. “Quando eu soube que o filme estava pronto, vi uma primeira parte, causou muito impacto. Ver aquilo foi marcante”.
Dom Pedro Casaldáliga ficou no centro comunitário até o fim da exibição. Em conversa com a equipe da EBC, o bispo, que tem dificuldade para falar devido ao mal de Parkinson, disse que tinha receio de ser retratado como protagonista da luta de São Félix e ressaltou que as conquistas foram resultado da luta e da caminhada de muitos.
A produção poderá ser acompanhada pelos espectadores da TV Brasil nos dias 13, 20 e 27 de dezembro, sempre às 21h30 (horário de Brasília)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

'Capitalismo criou ser humano adequado ao consumo', diz filósofa sobre burguesia

Reportagem: Dodô Calixto e Rodolfo Machado | Opera Mundi - São Paulo
Ester Vaisman, organizadora de 'Lukács: Estética e Ontologia', diz que manipulação do capital atravessa relações humanas, apoiando conservadorismo
  
O ano de 1848 marca, na Europa, a emergência de um novo sujeito histórico: a classe trabalhadora. A partir daí, o pensamento da direita, enraizado no capital, entra em declínio, no que é considerada a decadência ideológica burguesa. Essa é a análise de Ester Vaisman, professora de filosofia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Organizadora do livro Lukács: Estética e Ontologia, ela cita o filósofo húngaro György Lukács para exemplificar como o capital mostrou no decorrer dos últimos séculos “uma sobrevida, uma capacidade de autoperpetuação e reprodução inimaginável”. 

“A decadência ideológica se manifesta, primeiro, na afirmação de uma impotência do ser humano, não só de conhecer a realidade, mas de mudar e transformar o mundo. Portanto, qualquer ideia de libertação ou emancipação é considerada como uma utopia, ou uma recaída tardia às tendências socialistas, de constituição de um mundo onde todas as pessoas possam viver bem em todos os níveis, não só no material, mas também no cultural”, analisa. “O capital não é algo material. Pelo contrário, é uma relação social. Porém, ele ganha uma autonomia, como se tivesse uma vontade própria, construindo um ser humano adequado a ele. Portanto, o fato de um shopping center se tornar um lugar de lazer no fim de semana é um símbolo maior dessa alienação que se dá no nível do consumo. Logo, a alienação não se dá apenas na fábrica, na indústria: ela atinge a todos, mesmo os que não atuam, no chão de uma fábrica”, analisa.

Ao superar a concepção do capitalismo apenas na relação de trabalho, Vaisman argumenta que, atualmente, sofremos um processo de manipulação em um nível mais amplo, não só como consumidores, mas na família, nas relações de amizades e amorosas. Nesse cenário, o pensamento de direita se prolifera.

“A manipulação [do capital] é um processo que atravessa todas as relações humanas. Por isso, o pensamento de direita tem galvanizado tantas atenções e tem obtido tanto apoio ao redor do mundo. Com a derrota soviética no leste europeu, não se vê uma perspectiva à esquerda. E a única alternativa que está posta para muitas pessoas é ditadura, é a direita.  [...] O culpado é sempre o imigrante, o culpado é o ocidente, o islã. Sempre uma busca por um bode expiatório. É impressionante como essa faceta da história se repete”, conclui.

VEJA O VÍDEO DA ENTREVISTA COM VAISMAN NO SITE DO OPERA MUNDICLICANDO AQUI >>>>


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

"Regulamentar mídia pode ser bom para liberdade de expressão", diz enviado da ONU

Uma regulamentação da mídia que garanta uma "multiplicidade de vozes" no espaço público pode ser positiva para o Brasil - como o é para qualquer democracia.
É a avaliação do advogado especializado em direitos humanos David Kaye, desde agosto enviado especial da ONU para liberdade de expressão.
A entrevista é de Rafael Barifouse, publicada por BBC Brasil, 01-12-2014.

Formado pela Universidade da Califórnia em Berkeley, Kaye trabalhou por dez anos no Departamento de Estado americano e, desde 2005, é professor da Escola de Direito da Universidade da Califórnia em Irvine.

Ocupante de um posto da ONU criado em 1993, ele faz parte do Conselho de Direitos Humanos da organização e tem como missão monitorar violações à liberdade de expressão em países ao redor do mundo, além de cobrar explicações de governos, instituições independentes e outras entidades quando o direito de buscar, receber e compartilhar informação estiver sob ameaça.

Em entrevista à BBC BrasilKaye comenta as diferentes formas de regulamentação da mídia aplicadas em vários países, entre eles o Reino Unido e os Estados Unidos, e como isto pode tanto favorecer quanto prejudicar a liberdade de expressão:
Eis a entrevista.

Qual é o papel da mídia para a liberdade de expressão?

É crucial. O artigo 19 da Declaração Universal de Direitos Humanos diz que todos têm direito a buscar, receber e compartilhar informação. Também está previsto aí o direito a receber informação correta de nossos governos e outras autoridades. Isso se refere não só a jornalistas, mas a qualquer pessoa que use qualquer tipo de mídia. Mas isso é muito mais difícil para indivíduos comuns do que para a imprensa. Por isso, a mídia é fundamental para a participação pública e para os valores democráticos. É difícil imaginar qualquer democracia sem imprensa livre. Então, quando falamos de qualquer proposta de regulamentação da mídia, devemos nos perguntar: ela preserva este espaço fundamental para a imprensa reunir e compartilhar informação?

Como o senhor vê a discussão sobre regulamentação econômica do mercado de mídia levantada pela presidente Dilma Rousseff?

É difícil falar de uma proposta sem algo concreto. A presidente falou de forma geral da necessidade de regulamentação sob o argumento de que é preciso evitar a concentração de empresas de mídia nas mãos de poucos. A ideia é justa. Se você quer implementar uma regulamentação, ela deve favorecer a competição entre as empresas para que haja uma constante competição por leitores. Isso cria uma situação em que nenhum veículo é dominante. Encontrar uma forma de incentivar a diversidade na propriedade de mídia é bom para a liberdade de expressão.

Muitas pessoas veem qualquer proposta de regulamentação como sinônimo de censura. Isso é correto?

Quanto ao propósito, não dá para alguém dizer que a regulamentação por si só seja um problema para a liberdade de expressão. Mas temos de ter em mente que o Brasil tem uma história de controle da mídia estatal ou privada, assim como muitos países da América Latina, que basicamente leva a uma censura direta ou prévia, não permitindo que certos assuntos sejam publicados ou punindo (os veículos de comunicação) depois da publicação. Entendo que a discussão sobre este tema seja algo sensível. Isso é saudável, porque você não quer voltar àquela situação (de censura) ou criar meios de voltar a ela no futuro.

Como a regulamentação da mídia pode favorecer a liberdade de expressão?

Ao aumentar o número de lugares onde indivíduos podem encontrar informação e se expressar. Se jornais competem por histórias, há mais incentivos para se investigar algo que pode não ser positivo para o Estado, mas que é uma informação de interesse público. Se não há competição, a mídia se torna um pouco preguiçosa e não investiga como faria se houvesse concorrência.

A diversidade é importante por essa perspectiva, mas também para haver uma multiplicidade de visões no espaço público. Quando a imprensa é controlada por poucos veículos, isso reduz a quantidade de vozes às quais as pessoas têm acesso. Quando houver uma proposta concreta de regulamentação no Brasil, é preciso garantir que ela encoraje a multiplicidade de veículos de imprensa.

E quando esta regulamentação pode ser uma ameça à liberdade de expressão?

Há todo um espectro de controle da mídia pelo governo. Há governos repressores que censuram ativamente, especialmente na Ásia e no Oriente Médio. Controlam a mídia e prendem jornalistas, como vimos no Egito recentemente. Esse país é um exemplo do efeito negativo. O país tem, em geral, uma mídia ativa. Mas, no último ano, houve grande pressão sobre a imprensa para que ela conte histórias de acordo com a visão do governo. Isso levou a uma autocensuranos altos escalões da mídia egípcia.

Ao mesmo tempo, na outra ponta deste espectro, há uma regulamentação da mídia feita em países desenvolvidos e em desenvolvimento que trata da propriedade de empresas da área ou determina as frequências que podem ser usadas na radiodifusão. Você vê isso em lugares como os Estados Unidos e a Europa, onde já existem leis antitruste para garantir que nenhuma empresa tenha o monopólio de várias indústrias. Não há motivos para não se aplicar isso também à mídia. Só é preciso ter mais cuidado para que esta lei não dê ao governo uma forma de controlar o conteúdo.

O senhor cita os EUA, um país que preza muito pela liberdade de expressão. Pode explicar melhor como o mercado americano de mídia é regulado e o que isso promove?

A regulamentação nos EUA garante que nenhuma companhia controle um certo mercado. Você vê isso em nível local e nacional. A lei diz, por exemplo, que uma empresa não pode ter emissora de TV ou rádio e um veículo mídia impressa num mesmo mercado. Nos últimos anos, tivemos uma grande concentração de mídia nos Estados Unidos, e isso vem sendo monitorado pelo governo para que nenhuma empresa tenha uma vantagem injusta, monopolizando um mercado.

É algo bem parecido com o que vemos na União Europeia, em que há regras para evitar a concentração da mídia. Nem sempre é fácil garantir a diversidade, especialmente porque é muito caro lançar um novo veículo de imprensa. Uma coisa que o governo pode fazer em prol disso é apoiar novos veículos desde o início. Não há isso nos Estados Unidos, mas emissoras públicas têm apoio do governo. Isso é feito para que haja garantias de que exista uma voz independente, além dos veículos privados.

Recentemente, o Reino Unido também regulamentou seu mercado. Por que o governo britânico fez isso?

A regulamentação no Reino Unido é menos sobre a propriedade da mídia e mais sobre o comportamento de jornalistas. Foi uma resposta ao clamor público gerado pela invasão da privacidade dos cidadãos por tabloides. O Parlamento determinou que isso era ilegal e inaceitável. Mas é preciso ter cuidado porque, especialmente no Reino Unido, há pressão sobre a mídia feita por agências de segurança e vigilância, que dizem o que pode ou não ser publicado.

Isso também é uma forma de regulamentação, e é muito problemática, porque interfere no conteúdo. Apesar de a legislação internacional de direitos humanos permitir restrições à liberdade de expressão em casos de segurança nacional, isso deve ser feito em casos restritos, senão a cartada da segurança nacional pode ser usada para controlar a mídia.

Por que criar regras especiais para jornalistas quando é possível usar leis existentes para coibir excessos?

Acho que isso nunca deveria ser feito, o que não significa que os jornalistas sejam livres para violar as leis. Um jornalista sabe que será processado se facilitar um crime. Mas, de forma geral, não acho que deveria haver regras para limitar o que a imprensa pode ou não investigar. Ao redor do mundo, vemos formas ilimitadas de controlar o que jornalistas podem fazer. Em certos países, por exemplo, o governo usa princípios religiosos para dizer o que não pode ser publicado.

Além da lei, quais são as outras formas possíveis de controlar a mídia?

pressão política pode impedir a mídia de realizar seu trabalho. Um jornalista precisa de acesso a autoridades. Negar este acesso é uma forma não jurídica de o governo pressionar a mídia, dificultando o seu trabalho e, assim, controlando o que é publicado. Isso ocorre em todo lugar.

Empresas e empresários também exercem tanta ou mais influência negativa sobre jornalistas. Uma história pode ser contra os interesses do dono da empresa de mídia. Isso é muito sério: uma ameaça tão séria ao noticiário econômico quanto apressão política ao noticiário político.

Há como evitar isso?

Uma forma é ter transparência, para que o público saiba o nível de controle editorial exercido pelo dono da empresa de mídia. É algo difícil de regular por meio de lei, mas é possível que uma ONG e outros repórteres façam esse monitoramento. As pessoas poderiam, então, fazer suas escolhas com base numa lista que mostra o nível de controle exercido pelo dono da empresa nas decisões editoriais.

No Brasil, famílias de políticos são donas de veículos de comunicação. Como isso afeta a liberdade de expressão?

Isso é um problema por algumas razões. Uma delas é que, se estas famílias usam a mídia para promover as carreiras destes políticos, isso cria uma desigualdade em relação aos políticos que não são donos de veículos. Veja a Itália, por exemplo, onde (o ex-premiê) Silvio Berlusconi controla o principais veículos. Em geral, há liberdade de expressão no país mas, como as maiores empresas de mídia são de Berlusconi, era difícil conseguir notícias controversas sobre ele. Isso é um problema para qualquer processo democrático.

Ao mesmo tempo, há Michael Bloomberg, dono de uma grande empresa de comunicação e ex-prefeito de Nova York.

Sim, mas ele era apenas um de muitos. O mercado de mídia de Nova York é muito competitivo, e Bloomberg é um dos seus menores atores. Por isso, a diversidade de vozes na mídia é importante.
(Fonte: BBC e IHU-on  line)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Atenção: Ato Público pela Reforma Política Democrática em Belo Horizonte




A Coalizão Democrática em Minas soma-se às iniciativas em defesa da Reforma Política e realizará em BH no dia 05 de dezembro, próxima sexta, um Ato Público pela Reforma Política Democrática. 

Será às 18hs30min, no Auditório da Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem.


Este período de ebulição da vida política nacional é terreno fértil para as ideias avançadas espalharem-se entre o povo. 

O objetivo do ato é envolver mais pessoas, entidades, movimentos e coletivos nesta luta.


Precisamos da contribuição de tod@s para divulgarmos este ato. Contamos com tod@s!


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