Segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo, desta terça
(19/03), o advogado Carlos Araújo, ex-deputado estadual pelo Rio Grande do
Sul (PDT) e ex-marido da presidenta Dilma Rousseff, pediu ontem que
a Comissão Nacional da Verdade que investigue empresários brasileiros
que, segundo ele, financiaram a repressão durante a ditadura militar
(1964-1985). O pedido ocorreu durante depoimento em audiência pública em Porto
Alegre.
Segue, abaixo, a matéria
publicada no Jornal O Estado de São Paulo:
"Tenho certeza de que a Comissão da Verdade vai entrar nesse antro da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que foi responsável não só por financiar, mas também por assistir e estimular a tortura", afirmou.
Araújo disse ainda, em seu
depoimento, que empresários chegaram a acompanhar sessões de tortura e teriam estimulado
os agentes. Chegou a mencionar um nome - "Nestor Figueiredo",
"que até hoje está na cúpula da Fiesp" - que estaria envolvido com o
financiamento da repressão.
Em nota divulgada horas depois,
em São Paulo, a Fiesp afirmou que "a atuação da entidade tem se
pautado pela defesa da democracia e do Estado de Direito, e pelo
desenvolvimento do Brasil" e que "eventos do passado que contrariem
esses princípios podem e devem ser apurados". A entidade informou que o
nome de Nestor Figueiredo, citado pelo ex-deputado, não consta nos
arquivos da federação.
Como sofre de enfisema
pulmonar, Araújo ficou poucos minutos na audiência promovida pelas
Comissões Nacional e Estadual da Verdade. A programação foi alterada para que
ele falasse logo que chegou e saísse após cerca de dez minutos de depoimento.
O ex-deputado exortou a
Comissão Nacional a cumprir a promessa de revelar as cadeias de comando, do
general ao torturador, conforme disse ao Estado o coordenador do grupo, Paulo
Sérgio Pinheiro, em entrevista publicada no domingo (leia a matéria publicada no site do IHU, aqui). Araújo, que participou da
luta armada, foi preso e torturado no Departamento de Ordem Política e Social
(Dops) de São Paulo.
Ontem, Paulo Sérgio
Pinheiro ressaltou que uma das linhas de trabalho da comissão é investigar
o financiamento da repressão no período mas admitiu que a questão é "delicadíssima".
Na audiência, o
governador gaúcho, Tarso Genro (PT), voltou a classificar como
"lamentável" a decisão tomada em 2011 pelo Supremo Tribunal Federal
que considerou os torturadores também beneficiados pela Lei da Anistia. O
petista disse que essa posição será revista, pois "vozes importantes"
dentro da Corte estariam dispostas a rediscutir o assunto. Tarso, no
entanto, não citou nomes.
Outro nome
Outro nome
A ligação de empresários
paulistas com a polícia política da ditadura, registrada em documentos do
Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Luz, foi revelada pelo
(jornal) Estado (de São Paulo) no dia 17. Tornados públicos pelo Arquivo
Público estadual, eles informam as visitas diárias feitas ao órgão no início
dos anos 70. Entre os nomes desses visitantes, os documentos apontavam o do
empresário Geraldo Resende de Mattos, que era identificado apenas pela
palavra "Fiesp".
No dia seguinte à
publicação da reportagem, a Comissão da Verdade da Assembleia paulista anunciou
a disposição de investigar as ligações da entidade empresarial com o aparelho
repressivo do regime militar. Na ocasião, a Fiesp informou também que
o nome de Mattos nunca figurou entre seus funcionários. Um parente
contou que ele havia trabalhado para o Serviço Social da Indústria - e este
pediu tempo para checar a informação. Mattos morreu de enfarte em
2002, aos 65 anos.
(Fonte: reportagem
de Elder Ogliari, publicada no jornal O Estado de S. Paulo).
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