Por Carlos Castilho – Publicado no Observatório da Imprensa, em
09/07/2013
O
recado das ruas foi dado, mas como acontece em todo processo político, alguém
terá que dar
continuidade ao clamor por
mudanças, expressado em cartazes, pichações, slogans e mensagens via redes
sociais.
Mas,
menos de três semanas depois da onda de manifestações de rua que sacudiu o país
do Oiapoque ao Chuí, o que se vê são os políticos levando a temática da mudança
para seus interesses eleitorais. Em vez de discutir como uma consulta popular
contribuiria para uma mudança política no país, eles priorizam filigranas jurídicas e casuísmos como a dificuldade em
adaptar a urna eletrônica para uma votação na base do “sim” ou “não”.
Por
seu lado, a presidente da República está isolada no
Palácio do Planalto porque
sua comunicação com os manifestantes é feita exclusivamente pela mídia
convencional, que está alinhada com os interesses eleitorais e obviamente
enquadra as declarações de Dilma Rousseff dentro do seu projeto editorial. O
programa de rádio da presidente tem traço de audiência.
A
presidente teria a seu dispor a redes sociais para uma comunicação direta, mas
isso a obrigaria a uma mudança radical de comportamentos e valores, porque inevitavelmente
teria que enfrentar uma legião de desafetos, nem sempre cordiais. Uma
alternativa seria a escolha de um interlocutor palaciano nas redes sociais, mas
isso também exigiria um senhor jogo de cintura para lidar com o ambiente caótico
do mundo político digital.
Neste
quadro, fica patente a orfandade política dos milhares de pessoas, em sua
maioria da classe média, que foram às ruas. Antes dos protestos, a ausência de canais de representação já existia e foi um dos principais
motores das manifestações. Mas para os jovens com menos de 25 anos, a ida às
ruas foi uma explosão de esperança, cunhada no grito “o gigante acordou” saído
de muitas gargantas.
A
esperança está cedendo lugar
à frustração e os
estudantes começam a se dar conta de que estão mais uma vez órfãos de
representação política porque as emoções manifestadas nas ruas acabaram
distorcidas pela mediocridade e corporativismo de deputados e senadores, com o
apoio de governadores e prefeitos, de todos os partidos.
Esta
situação pode criar as condições para o que meu colega Luciano Martins Costa
chamou, neste Observatório, de segunda onda
de protestos. O problema é que muitos participantes da primeira
onda seguramente trarão muitos ressentimentos quando – e se – voltarem às ruas.
A frustração por terem visto suas reivindicações distorcidas e manipuladas. O
caso da reforma política é exemplar.
Os
que foram às ruas em junho deixaram claro sua exigência de uma mudança nos
comportamentos políticos, especialmente de deputados e senadores. Pois bem:
Dilma Rousseff colocou a questão da reforma política na agenda oficial por meio da
desajeitada proposta de plebiscito. Os membros do Congresso foram, no entanto,
mudando o caráter da discussão e agora já se dá como quase certo de que no
máximo se pode esperar mudanças cosméticas, caso a reforma acabe sendo decidida
pela via parlamentar.
Preocupados
apenas com as próximas eleições, os políticos e governantes estão brincando com
fogo, pois alimentam a frustração não só dos jovens mas também de uma classe
média cujo medo de perder conquistas sociais e econômicas é um elemento inédito da política brasileira. Historicamente, os
protestos políticos no país sempre foram alimentados pelo sentimento de
injustiça e opressão. Agora é diferente – e os tomadores de decisão parecem não
ter entendido as consequências deste novo comportamento político.
(Fonte: Observatório da Imprensa)
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