quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Sobre médicos estrangeiros, especialmente os cubanos

Debate sobre médicos me dá vergonha - Gilberto Dimenstein - Portal UOL
O perfil dos médicos cubanos é o seguinte: em geral, eles têm mais de uma década de formados, passaram por missões em outros países, fizeram residência, parte deles ( 20%) cursaram mestrado e 40% obtiveram mais que uma especialização.
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Para quem está preocupado com o cidadão e não apenas com a corporação, a pergunta essencial é: essa formação é suficiente?

Aproveito essa pergunta para apontar o que vejo como uma absurda incoerência - uma incoerência pouca conhecida da população - de dirigentes de associações médicas. Um dos dirigentes, aliás, disse publicamente que um médico brasileiro não deveria prestar socorro (veja só) se um paciente for vítima de um médico estrangeiro. Deixa morrer. Bela ética.

Provas têm demonstrado que uma boa parte dos alunos formados nos cursos de medicina no Brasil não está apta a exercer a profissão. Não vou aqui discutir de quem é a culpa, se da escola ou do aluno. Até porque para a eventual vítima tanto faz.

Mesmo sendo reprovados nos testes, os estudantes ganham autorização para trabalhar.
Por que essas mesmas associações, tão furiosas em atacar médicos estrangeiros, não fazem barulho para denunciar alunos comprovadamente despreparados?

A resposta encontra-se na moléstia do corporativismo.

Se os brasileiros querem tanto essas vagas por que não se candidataram?

Será que preferem que o pobre se dane apenas para que um outro médico não possa trabalhar?

Sinceramente, sinto vergonha por médicos que agem colocando a vida de um paciente abaixo de seus interesses.

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O que move as entidades médicas?  Por Luciano Martins Costa (Observatório da Imprensa)


Uma leitura cuidadosa dos principais jornais brasileiros de circulação nacional mostra que há uma tendência da imprensa a desqualificar o programa Mais Médicos, pelo qual o governo federal procura suprir a falta de profissionais de saúde em bairros periféricos das grandes cidades e nos municípios distantes dos grandes centros.
De modo geral, o noticiário abre com informações aparentemente equidistantes da polêmica central sobre o assunto, mas a hierarquia das notícias e as escolhas das análises priorizam opiniões contrárias à iniciativa do governo.
Nas edições de sexta-feira (23/8), a exceção é a Folha de S. Paulo, que dá espaço para um artigo esclarecedor sobre a questão. No Estado de S. Paulo, o principal destaque vai para dados factuais, como o número de cidades paulistas que vão receber médicos selecionados na primeira fase do programa. Nesse texto está inserida a defesa do projeto, sem um destaque especial. As opiniões contrárias estão separadas em dois outros textos, um deles informando que as entidades representativas dos médicos brasileiros e partidos de oposição vão recorrer ao Ministério Público do Trabalho para impedir que se consolide a contratação de estrangeiros.
Abaixo da reportagem principal também é publicado o resultado de uma pesquisa que supostamente mostra que o programa Mais Médicos é rejeitado pela maioria da população. No entanto, esse texto peca pela falta de precisão e acuidade. Por exemplo, não informa de quem é a iniciativa da consulta, feita por um tal Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ). Também omite que o ICTQ é uma empresa de educação continuada que é apoiada pela indústria farmacêutica, oferecendo cursos para profissionais do setor.
A “pesquisa” é referendada por um dirigente do Conselho Federal de Medicina, que usa as informações para reforçar a campanha da entidade contra o programa do governo. Trata-se, portanto, de uma daquelas artimanhas do jornalismo segundo a qual um suposto dado objetivo, como o resultado de uma pesquisa, é apresentado como fato comprovador de uma opinião preexistente, omitindo-se do leitor o contexto que lhe permitiria relativizar a informação – no caso, o interesse específico da indústria farmacêutica.
A serviço das farmacêuticas
Globo nem mesmo se dá ao trabalho de dissimular sua posição: abre a página explorando contradições entre integrantes do governo sobre o salário que os médicos cubanos irão efetivamente receber. No quadro em que o jornal costuma emitir sua opinião, fica claro que seus editores se alinham com o viés mais reacionário das entidades médicas: o texto afirma que “como existe um eixo Havana-Brasília, assentado em simpatias ideológicas, é preciso atenção redobrada na qualidade da prestação de serviço dos companheiros cubanos”.
Assim, em linguagem quase chula, o jornal carioca apoia a ideia de que os médicos cubanos estão sendo trazidos para fazer “pregação comunista”, como entende o presidente do Conselho Federal de Medicina.
Folha de S. Paulo se destaca por abrir um pouco mais o leque de alternativas do leitor, informando na reportagem principal que o Ministério Público do Trabalho vai investigar as condições da contratação de médicos cubanos. Em outra página, também com destaque, publica a posição do governo brasileiro, manifestada pelo secretário nacional de Vigilância Sanitária e pelo ministro das Relações Exteriores. Há também um perfil dos médicos cubanos que já atuam no Brasil, material acompanhado por um infográfico que mostra a distribuição desses profissionais em todos os estados.
Mas o diferencial da Folha é uma análise produzida pelo jornalista Marcelo Leite, na qual ele observa que Cuba forma milhares de médicos por mês, “como produto de exportação”. O autor explica que o governo cubano montou uma verdadeira indústria de profissionais de saúde, a maioria deles com especialização em medicina preventiva. Esse seria o segredo principal das realizações do regime cubano na área da saúde, como uma taxa de mortalidade infantil inferior à dos Estados Unidos. A ilha comandada pelos irmãos Castro desde 1959 produziu a partir de então 124.789 médicos e se destaca pela prevenção de doenças, diz o articulista.
Esse é o ponto central da polêmica: ao trazer 4 mil médicos de Cuba, o governo brasileiro está sinalizando que sua estratégia para suprir as deficiência da saúde nos lugares mais pobres vai se basear no atendimento preventivo, que reduz sensivelmente os custos do sistema e diminui a dependência em relação às empresas do setor farmacêutico.
O articulista da Folha dá a pista de onde vêm os interesses contrários ao programa do governo, ao afirmar que “na medicina preventiva, sua especialidade, é possível que [os médicos cubanos] se revelem até mais eficientes que os do Brasil, cuja medicina tem outras prioridades”.
Some-se isso com aquilo e... bingo! O leitor já sabe a serviço de quem estão as entidades que se opõem ao programa Mais Médicos.
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Conselhos de Medicina se manifestam - Fonte: CFM

Em nota, Conselhos de Medicina  repudiam atos de xenofobia e preconceito em qualquer situação

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) reafirmaram nesta quarta-feira (21) suas críticas ao Programa “Mais Médicos”, que “tem se configurado como um instrumento de agressão à legislação brasileira e à democracia“. Em nota, as entidades alertam a sociedade e a Justiça contra os abusos praticados no âmbito do Programa, que “incluem o desrespeito à lei que exige validação de diplomas obtidos no exterior, a precarização das relações de trabalho, a existência de situações análogas à semiescravidão entre médicos e o descaso na montagem de uma rede de atendimento que seja eficaz e eficiente”.
Os Conselhos de Medicina esclareceram também que repudiam “atos de xenofobia e preconceito em qualquer situação” e reforçaram que o debate deve ser ancorado em dois aspectos principais, sendo o primeiro deles a ausência de comprovação da competência técnica dos profissionais formados no exterior. No caso especifico dos cubanos, os Conselhos chamam a atenção para a existência de acordos firmados pelo Governo brasileiro e que permitem a prática de regras comuns aos regimes ditatoriais e autoritários no Brasil.
No documento, os Conselhos de Medicina ainda orientam os médicos brasileiros sobre procedimentos que devem ser adotados no exercício de sua função. “Sempre que procurados devem prestar atendimento aos pacientes com complicações decorrentes de atendimentos realizados por médicos estrangeiros contratados sem a revalidação de seus diplomas”. Além disso, reforçam que todo o trabalho deve ser realizado com dedicação, usando o melhor do conhecimento e todos os recursos disponíveis em benefício do paciente.
Os Conselhos esclareceram também que continuarão cumprindo a legislação, sem, no entanto, abandonar a busca do convencimento dos parlamentares durante o processo de discussão da MP 621 no Congresso, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Reafirmam ainda que manterão seu papel legítimo de agente fiscalizador da assistência em saúde, exigindo que Governo ofereça as condições de atendimento com qualidade em todo o território nacional, com a adoção de medidas estruturantes - capazes de resolver o problema da falta de acesso à assistência – ao invés de recorrer às ações paliativas, midiáticas e eleitoreiras.


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