Reportagem: Dodô
Calixto e Rodolfo Machado | Opera Mundi - São Paulo
Ester Vaisman, organizadora de 'Lukács: Estética e
Ontologia', diz que manipulação do capital atravessa relações humanas, apoiando
conservadorismo
O ano de 1848 marca, na Europa, a emergência de um
novo sujeito histórico: a classe trabalhadora. A partir daí, o pensamento da
direita, enraizado no capital, entra em declínio, no que é considerada a
decadência ideológica burguesa. Essa é a análise de Ester Vaisman, professora
de filosofia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Organizadora do livro Lukács: Estética e Ontologia, ela cita o filósofo húngaro György
Lukács para exemplificar como o capital mostrou no decorrer dos últimos
séculos “uma sobrevida, uma capacidade de autoperpetuação e reprodução
inimaginável”.
“A decadência ideológica se manifesta, primeiro, na
afirmação de uma impotência do ser humano, não só de conhecer a realidade, mas
de mudar e transformar o mundo. Portanto, qualquer ideia de libertação ou
emancipação é considerada como uma utopia, ou uma recaída tardia às tendências
socialistas, de constituição de um mundo onde todas as pessoas possam viver bem
em todos os níveis, não só no material, mas também no cultural”,
analisa. “O capital não é algo material. Pelo contrário, é uma relação
social. Porém, ele ganha uma autonomia, como se tivesse uma vontade própria,
construindo um ser humano adequado a ele. Portanto, o fato de um shopping
center se tornar um lugar de lazer no fim de semana é um símbolo maior dessa
alienação que se dá no nível do consumo. Logo, a alienação não se dá apenas na
fábrica, na indústria: ela atinge a todos, mesmo os que não atuam, no chão de
uma fábrica”, analisa.
Ao superar a concepção do capitalismo apenas na
relação de trabalho, Vaisman argumenta que, atualmente, sofremos um processo de
manipulação em um nível mais amplo, não só como consumidores, mas na família,
nas relações de amizades e amorosas. Nesse cenário, o pensamento de direita se
prolifera.
“A manipulação [do capital] é um processo que
atravessa todas as relações humanas. Por isso, o pensamento de direita tem
galvanizado tantas atenções e tem obtido tanto apoio ao redor do mundo. Com a
derrota soviética no leste europeu, não se vê uma perspectiva à esquerda. E a
única alternativa que está posta para muitas pessoas é ditadura, é a direita.
[...] O culpado é sempre o imigrante, o culpado é o ocidente, o
islã. Sempre uma busca por um bode expiatório. É impressionante como essa
faceta da história se repete”, conclui.
VEJA O VÍDEO DA ENTREVISTA COM VAISMAN NO SITE DO
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