Por Marcos Rolim*
No Brasil, medidas como as do Mississipi despertariam a simpatia de grupos fascistas, mas não têm chances de serem implementadas. Vivemos, entretanto, a tendência de judicialização de conflitos, encaminhando às delegacias especializadas da criança e do adolescente (Decas) casos que, no passado, seriam normalmente resolvidos no âmbito da escola.
A maioria das escolas brasileiras não possui regras claras. Com esta expressão, me refiro à existência de direitos, deveres e procedimentos conhecidos por todos, dispostos em material impresso de ampla circulação. Os alunos não possuem estas regras; professores, funcionários e pais, tampouco. Esta ausência é funcional ao descontrole e à reprodução de condutas indesejadas que acabam sendo enfrentadas por direções e professores mais com base na intuição do que em procedimentos técnicos amparados por estudos empíricos. A solução exige política pública que traduza as evidências sobre o que funciona no manejo de conflitos na escola. O tipo de pesquisa que não desperta maior interesse no Brasil. Na ausência desta política, se agravam os problemas disciplinares e aumentam os casos levados a registro policial. O vácuo é preenchido pelas boas intenções e pela adesão dogmática a esta ou àquela doutrina, enquanto o clima escolar se deteriora e o medo se dissemina.
Crianças e adolescentes vivem situações difíceis na escola. Algumas podem mesmo ser fonte de muita dor, como as formas mais sérias do bullying. Os alunos precisam da autoridade para adquirir limites e a autoridade não é o resultado natural da posição que se ocupa, mas da admiração que se conquista. Eles devem aprender a superar antagonismos por pactos, exercitando as possibilidades virtuosas da palavra. Um dos mais importantes desafios pedagógicos reside precisamente aí. As crianças não nascem sabendo como superar conflitos e as lições que trazem de casa apontam, não raro, para a imitação das respostas violentas. Os pais, afinal, quando batem em seus filhos, lhes ensinam apenas que a violência é meio legítimo para a superação de conflitos. Cabe à escola mostrar que não.
* Jornalista, sociólogo e professor do IPA
(Fonte: Jornal Extra Classe, ano 18, nº 172, abril de 2013)
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