Um dos mais renomados cientistas
políticos brasileiros, Wanderley Guilherme dos
Santos, denuncia a proliferação de organizações sem autenticidade democrática
ou popular, que juntamente com uma imprensa adversativa e adversária, tem
conseguido bloquear obras e ações do governo. Os sindicatos estão dormentes
e os parlamentares que teriam obrigação de defender o projeto do partido no
governo tem se caracterizado por uma ação pouco mais que medíocre.
Leia o texto,
extraído do blog "O cafezinho"
A imprensa adversativa e o governo sitiado
Com
a adesão nada discreta do diário Valor Econômico, o jornalismo de perfil
adversativo alcançou a unanimidade. Nenhuma notícia positiva é impressa sem um
embargo – mas, porém, todavia, contudo – seguido de uma desapontadora lembrança
má. Algo no seguinte estilo: “a inflação está cadente, mas as contas externas
entraram no vermelho”. Esse é o moto universal da imprensa brasileira atual.
O
sindicalismo anda entorpecido. Em épocas de emprego farto e ganhos salariais
sucessivos, cabe à liderança manter permanente sinal amarelo junto às bases,
precisamente para que quase nada mude, isto é, que continue a bonança na oferta
de empregos e apropriado aumento na renda. São constantes os alarmes
conservadores denunciando pleno emprego e aumento da renda dos trabalhadores
como responsáveis por recrudescimentos inflacionários. Estão acontecendo agora,
sem que as lideranças sindicais contraponham diagnóstico e terapia
alternativas.
Inflação
daninha grassa na criação de siglas de organizações sem correspondente
mobilização social efetiva. Não são grupos, mas siglas de interesse. Na
biografia delas encontra-se a eleição de uma diretoria e a incorporação de meia
dúzia de “especialistas”, freqüentes em bombásticas declarações à imprensa. Não
possuem legitimidade social nem mobilizam ninguém. São, antes, mobilizadas pela
imprensa adversativa nas declarações que antepõem especulações pessimistas aos
fatos materiais satisfatórios. Atuam em todos os segmentos da vida econômica e
social, com representatividade restrita à diretoria e aos membros fundadores.
Há
dez anos, ousado programa de subversão na estratificação social, na inovação
econômica e na modernização institucional tem sido responsável por substanciais
transformações na infra e na superestrutura do país. A cada ano, aumenta a
resistência dos tradicionais setores beneficiados pelos projetos de poder das
oligarquias às mudanças na agenda de prioridades dos projetos de governos
populares. Hoje, sitiado por uma imprensa adversativa e adversária, por um
sindicalismo dormente e por um carrossel de siglas de chantagem, um punhado de
figuras no Executivo tem garantido a continuidade, projeto a projeto, conquista
a conquista, sem contar senão com uma representação parlamentar de seu partido
principal – o PT – disciplinada, mas de qualificação pouco acima de medíocre.
Sindicatos, grupos sociais efetivamente vulneráveis e aliados políticos
usufruem preguiçosamente das conseqüências de bons governos sem retribuir em
defesa e mobilização de apoio. São caronas do sucesso. Ou os interessados mudam
ou podem ser obrigados a se mudar.
Wanderley
Guilherme dos Santos é cientista social e tem uma coluna semanal no blog “O
Cafezinho”: blog de análise política.
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