sexta-feira, 11 de abril de 2014

50 anos do Golpe Civil-Militar: a Igreja e o Golpe

Com o tema  A Igreja e o Golpe Militardepoimentos de ativistas políticos marcaram uma mesa-redonda ocorrida na manhã da quarta-feira, dia 9, no campus Coração Eucarístico. 



Mediada pelo coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp), professor Robson Sávio, o ciclo de debates contou também com depoimentos do professor Michel Marie Le Ven e dos padres Henrique Moura Faria e Paulo Gabriel Blanco, todos com participação política e histórias de luta intensa no período da ditadura, além da vida eclesial, e que continuam até hoje prestando serviços na articulação de movimentos sociais e de direitos humanos. 

Durante o evento, Emely Vieira, ex-presa política, contou que era muito envolvida em movimentos estudantis e da Igreja no período da ditadura e que passou por momentos difíceis: "Fiquei dois anos presa, sofrendo todos os tipos de tortura. Cheguei, inclusive, a fazer greve de fome por 15 dias". A militante na Ação Católica é atualmente coordenadora da Comissão Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte. Atua no núcleo de apoio psicológico dos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), devido à sua formação em Psicologia, e foi nomeada recentemente para a Comissão Estadual da Verdade. Foi, ainda, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos de Minas Gerais e coordenadora do Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas Ameaças do Estado. 

Estudioso da história oral, o professor francês da UFMG Michel Marie Le Ven, que chegou ao Brasil em 1965 e hoje é naturalizado brasileiro, também passou por dificuldades, ficando preso por um ano. "Passei pela dor da espera e pela perda do direito de ir e vir", falou. Assim como outros presos políticos, Michel recebeu certificado da presidência da república brasileira reconhecendo seu direito de resistência contra o regime autoritário e em prol da luta de estabelecimento das liberdades públicas e da democracia. "Mandei entregar esse documento à minha família para mostrar a eles que tentei ser fiel a vida toda", contou, reafirmando que muitos jovens de movimentos católicos foram presos. "Vocês não imaginam como foi a vida da igreja católica no mundo de 1968. A tortura não mata a consciência e por isso trabalhamos hoje com o conceito de memória, que é viver e agir", disse.

Ao contrário dos dois professores, o padre Paulo Gabriel Lopes Blanco relatou que não foi torturado, mas teve grande participação nos movimentos operários em Contagem, e na região do Barreiro e no bairro Cidade Industrial, em Belo Horizonte: "Os militares destruíram tudo o que tinha relação com o movimento popular". Além de escritor e poeta, o espanhol, que mora há 40 anos no Brasil, também naturalizado brasileiro, trabalha hoje na paróquia Cristo Redentor, no Barreiro. "É importante conhecer a história e não cometer os mesmos erros, fazendo com que todo cidadão possa viver com dignidade", falou. 

O debate foi encerrado com o depoimento do militante de movimentos de direitos humanos de Minas Gerais padre Henrique Moura Faria, que atua na articulação entre sociedade civil e organizada junto ao governo de Minas. Hoje ele é presidente do Instituto de Direitos Humanos do Estado e relembra o período que não traz boas lembranças: "Sabíamos o tempo todo que estávamos sendo vigiados nas salas de aula e nas igrejas. Tudo era gravado".

Posteriormente, os depoimentos farão parte da quarta edição da série Cadernos Temáticos, do Nesp, que tem o objetivo de divulgar, periodicamente, textos, reflexões, relatórios de projetos e outras produções de especial relevância, voltadas para a formação política dos cristãos engajados em movimentos sociais, pastorais e em variadas atividades da sociedade civil organizada.

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