"Fico feliz de não ser uma jornalista que traz as notícias que as pessoas querem ver, mas sim as notícias que as pessoas precisam ver." A afirmação é da jornalista Daniela Arbex, durante palestra sobre o tema Jornalismo como Instrumento de Transformação Social, ministrada na última segunda-feira (31), no Teatro João Paulo II, campus Coração Eucarístico. O evento, que reuniu alunos e professores de vários cursos da Universidade, integrou o Conexão Ciência e Cultura.
Ganhadora do prêmio Esso de Jornalismo, em 2012, com o livro Holocausto Brasileiro - Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes no Maior Hospício do Brasil, Daniela apresentou à plateia as motivações que a levaram a pesquisar e escrever seu best-seller sobre a história do hospital Colônia, destinado a pacientes com problemas psiquiátricos, que foi palco de torturas e maus tratos na década de 1960. Jornalista do Tribuna de Minas, de Juiz de Fora (MG), há 20 anos, Daniela resolveu pesquisar a história da instituição que fica na cidade de Barbacena (MG), a 100 km da sede do jornal. "Meu primeiro contato com essa história foi em 2009, quando entrevistei um psiquiatra de minha cidade e ele me mostrou o livro Colônia. As fotos desse livro me chocaram, porque o que eu via era um campo de concentração, e não um hospital. Daí eu comecei a pesquisar e procurar os sobreviventes", contou.
A jornalista iniciou sua busca pelo fotógrafo, para depois chegar às vítimas de tortura. O lugar, que tinha capacidade para 200 pessoas, abrigou cerca de 5.000 internos em condições desumanas, sem acesso a higiene ou alimentação adequada. Setenta por cento das pessoas que eram levadas para lá não tinham problemas psiquiátricos, eram militantes políticos, mulheres que perdiam a virgindade antes do casamento, negros, pobres, homossexuais e os chamados insanos. Era um local para os indesejáveis sociais", relatou.
Dos 5.000 internos, sobreviveram 153, vários deles ainda vivendo no hospital Colônia – que hoje tem uma proposta de trabalho bem diferente – "Entrevistei os internos e ex-internos, além dos filhos que foram arrancados das mães, internas, e hoje testemunham sobre o sofrimento provocado pelo antigo hospital", disse.
Daniela também falou sobre seu novo livro, Cova 312, em que aborda o sumiço de um cadáver no período da ditadura e conta também a história de outros presos políticos que ficaram detidos na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora (MG). "Nesse livro eu conto a história do Milton, um militante político que desapareceu e depois foi encontrado morto, foi acusado de suicídio, mas os hematomas e feridas não eram compatíveis com um suicídio. Também falo da história de outros presos políticos, alguns anônimos, outros conhecidos, como o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda. A importância deste trabalho, Cova 312, e do Holocausto Brasileiro é mostrar uma realidade que existiu e que poucos conheceram", afirmou a palestrante.
A edição do Conexão Ciência e Cultura com a jornalista Daniela Arbex foi resultado de uma parceria entre a Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários (Secac) da Universidade e a Pró-reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação (PROPPg), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o Núcleo de Estudos Socipolíticos da PUC Minas e outros cursos e instituto parceiros.
A atividade destina-se a estabelecer um vínculo entre o meio acadêmico e personalidades do mundo das ciências e da cultura, com o objetivo de suscitar reflexões sobre temas de relevância para a sociedade.
Com: Assessoria de Imprensa PUC Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são de responsabilidade dos que o escrevem, e não expressam o pensamento do Núcleo de Estudos Sociopolíticos.